Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 10

Passaram-se anos. As estações vinham, passavam e a curta vida dos bichos se consumia. Tempo chegou em que ninguém mais se lembrava de antes da Revolução, com exceção de Quitéria, Benjamim, o corvo Moisés e alguns porcos.

Maricota morreu; Ferrabrás, Lulu e Cata-vento morreram. Jones também morreu num asilo de alcoólatras, noutra cidade. Bola-de-Neve fora esquecido. Sansão também, exceto pelos poucos que o haviam conhecido. Quitéria era agora uma égua velha, corpulenta, com os olhos atacados pela catarata. Já ultrapassara de dois anos a idade de aposentadoria. Aquela história de reservar um pedaço de campo para os animais idosos não era mais nem mencionada. Napoleão tornara-se um cachaço madurão de uns cento e cinqüenta quilos. Garganta estava tão gordo que mal conseguia abrir os olhos. Somente Benjamim continuava o mesmo, apenas de focinho um pouco mais grisalho e, desde a morte de Sansão, mais rabugento e taciturno do que nunca.

Agora existiam muito mais criaturas na granja embora o índice de crescimento não fosse aquele que esperavam nos primeiros anos. Haviam nascido muitos animais, para os quais a Revolução não passava de uma obscura tradição transmitida verbalmente, e outros que nem sequer tinham ouvido falar coisa nenhuma a respeito. A granja contava agora com três cavalos além de Quitéria. Eram bichos formidáveis, trabalhadores incansáveis, bons camaradas mas muito estúpidos. Nenhum se mostrou capaz de aprender o alfabeto além da letra B. Aceitavam tudo quanto lhes era dito a respeito da Revolução e dos princípios do Animalismo, especialmente por Quitéria a quem dedicavam um respeito filial, mas era duvidoso que entendessem lá grande coisa.

A granja prosperava e estava mais bem organizada; fora até aumentada pela compra de dois tratos de terra ao Sr. Pilkington. O moinho de vento afinal, fora concluído com êxito e a granja possuía uma debulhadeira e um elevador de feno próprio, e construções novas se haviam erguido. Whymper comprara uma aranha. O moinho de vento, entretanto, não era usado para gerar energia elétrica. Usavam-no para moer cereais, coisa que dava bom dinheiro. Os animais estavam a braços com a construção de outro moinho de vento; quando este estivesse concluído, dizia-se, seriam instalados os dínamos. Mas naquele luxo de que Bola-de-Neve lhes falara certa vez, baias com luz elétrica e água quente e fria, e na semana de três dias, não se falava mais. Napoleão denunciara tais idéias como contrárias aos princípios do Animalismo. A verdadeira felicidade, dizia ele, estava em trabalhar bastante e viver frugalmente.

De certa maneira, parecia como se a granja se houvesse tornado rica sem que nenhum animal tivesse enriquecido — exceto, é claro, os porcos e os cachorros. Talvez isso acontecesse por haver tantos porcos e tantos cachorros. Não que esses animais não trabalhassem, à sua moda. Garganta nunca se cansava de explicar que havia um trabalho insano na ação de supervisionar e organizar a granja. Grande parte desse trabalho era de natureza tal que estava além da ignorância dos bichos. Tentando explicar, Garganta dizia-lhes que os porcos despendiam diariamente enormes esforços com coisas misteriosas chamadas “arquivos”, “relatórios”, “minutas” e “memorandos”. Eram grandes folhas de papel que precisavam ser miudamente cobertas com escritas e, logo depois, queimadas no forno. Era tudo da mais alta importância para o bem-estar da granja, dizia Garganta. A verdade é que nem os porcos nem os cachorros produziam um só grama de alimento com o seu trabalho; e havia um bocado deles, com o apetite sempre em forma.

Quanto aos outros, sua vida, ao que sabiam, continuava a mesma. Geralmente andavam com fome, dormiam em camas de palha, bebiam égua no açude e trabalhavam no campo; no inverno, sofriam com o frio; no verão, com as moscas. De vez em quando, os mais idosos rebuscavam a apagada memória e tentavam determinar se nos primeiros dias da Revolução, logo após a expulsão de Jones, as coisas haviam sido melhores ou piores do que agora. Não C9nseguiam lembrar-se. Nada havia com que estabelecer comparação: não tinham em que basear-se, exceto as estatísticas de Garganta, que invariavelmente provavam estar tudo cada vez melhor. Os bichos consideravam o problema insolúvel; de qualquer maneira, dispunham de muito pouco tempo para essas especulações. Apenas o velho Benjamim afirmava lembrar-se de cada detalhe de sua longa vida e saber que as coisas nunca haviam estado e nunca haveriam de ficar nem muito melhor nem muito pior, sendo a fome, o cansaço e a decepção, assim dizia, a lei imutável da vida.

Mesmo assim os bichos nunca perdiam a esperança. Mais ainda, jamais lhes faltava, nem por instantes, o sentimento de honra pelo privilégio de serem membros da Granja dos Bichos que continuava ser a única em todo o condado — em toda a Inglaterra! — de propriedade dos animais e por eles administrada. Nenhum deles, nem mesmo os mais moços, nem mesmo os chegados de outras granjas, situadas algumas a dez ou vinte quilômetros de distância, jamais deixaram de maravilhar-se com isto. E quando ouviam o tiro da espingarda e viam a bandeira flutuando no topo do mastro, seu coração se inchava de orgulho e a conversa passava a girar em torno dos históricos dias de antanho, da expulsão de Jones, da inscrição dos Sete Mandamentos, das grandes batalhas em que os invasores humanos haviam sido derrotados. Nenhum dos antigos sonhos fora abandonado. A República dos Bichos, que o velho Major havia previsto, quando os verdes campos da Inglaterra não mais seriam pisados pelos pés humanos, era coisa em que ainda acreditavam. O dia havia de chegar. Podia ser mais cedo ou mais tarde, talvez não acontecesse durante a vida de qualquer dos animais de então, mas havia de chegar. Até a melodia de Bichos da Inglaterra talvez fosse cantarolada secretamente aqui e ali; de qualquer maneira, a verdade é que cada bicho da granja a conhecia, embora nenhum tivesse coragem de cantá-la em voz alta. Talvez fosse verdade que a vida era difícil e que nem todas as suas esperanças se haviam concretizado; mas tinham a consciência de não serem iguais aos outros animais. Se tinham fome, não era por alimentarem alguns tirânicos seres humanos; se trabalhavam arduamente, pelo menos trabalhavam em seu próprio benefício. Nenhuma criatura dentre eles andava sobre duas pernas. Nenhuma criatura era “dona” de outra. Todos os bichos eram iguais.

Certo dia, no início do verão, Garganta mandou que as ovelhas o seguissem e levou-as para um campo situado nos confins da granja, que fora tomado de brotação de vidoeiro. As ovelhas passaram o dia inteiro roendo as brotações, sob a supervisão de Garganta. À noite, ele regressou à granja, mas, como disse às ovelhas que permanecessem lá, terminaram ficando a semana toda durante a qual os outros bichos nem as enxergavam. Garganta passava com elas a maior parte do dia. Estava, explicou, ensinando-lhes uma nova canção para a qual precisava de certo sigilo.

Foi logo após o retorno das ovelhas, numa noite agradável, quando os bichos haviam terminado seu trabalho e regressavam à granja, que se ouviu, vindo do pátio, um relinchar horripilante. Arrepiados os animais estacaram. Era a voz de Quitéria. Ela relinchou outra vez e os bichos dispararam a galope para o pátio. Viram, então, o que ela havia visto.

Um porco caminhava sobre as duas patas traseiras.

Sim, era Garganta. Um tanto desajeitado devido à falta de prática em manter seu volume naquela posição, mas em perfeito equilíbrio, passeava pelo pátio. Momentos depois, saiu pela porta da casa uma comprida coluna de porcos, todos caminhando sobre as patas de trás. Uns melhor que os outros, um ou dois até meio desequilibrados e dando a impressão de que apreciariam o apoio de uma bengala, mas todos fizeram a volta ao pátio bastante bem. Finalmente houve um alarido dos cachorros, ouviu-se o cocoricó esganiçado do garnisé e emergiu Napoleão, majestosamente, desempenado, largando olhares arrogantes para os lados, com os cachorros brincando à sua volta.

Trazia nas mãos um chicote.

Houve um silêncio mortal. Surpresos, aterrorizados, uns junto aos outros, os bichos olhavam a fila de porcos marchar lentamente em redor do pátio. Pareceu-lhes enxergar o mundo de cabeça para baixo. Então veio um momento em que, passado o choque e a despeito de tudo — a despeito do terror dos cachorros e do hábito, arraigado após tantos anos, de nunca se queixarem, nunca criticarem, pouco importava o que sucedesse — poderiam lançar uma palavra de protesto. Porém, exatamente nesse instante, como se obedecessem a um sinal combinado, as ovelhas. em uníssono, estrondaram num espetacular balido:

— Quatro pernas bom, duas pernas melhor! Quatro pernas bom, duas pernas melhor! Quatro pernas bom, duas pernas melhor!

Baliram durante cinco minutos sem cessar. E, quando se calaram, fora-se a oportunidade da palavra de protesto, pois os porcos já haviam voltado para dentro da casa.

Benjamim sentiu um focinho esfregar-lhe o ombro. Era Quitéria. Seus olhos pareciam mais encobertos que nunca. Sem dizer palavra, ela o puxou delicadamente pela crina, levando-o até o fundo do grande celeiro, onde estavam escritos os Sete Mandamentos. Durante um ou dois minutos ficaram olhando a parede alcatroada com o grande letreiro branco.

Minha vista está falhando — disse ela finalmente. — Mesmo quando eu era moça não conseguia ler o que estava escrito aí. Mas parece-me agora que parede está meio diferente. Os Sete Mandamentos são os mesmos de sempre, Benjamim?

Pela primeira vez, Benjamim consentiu em quebrar sua norma, e leu para ela o que estava escrito na parede. Nada havia, agora, senão um único Mandamento dizendo:

TODOS OS ANIMAIS SÃO IGUAIS

MAS ALGUNS ANIMAIS SÃO MAIS IGUAIS DO QUE OS OUTROS


Depois disso, não foi de estranhar que, no dia seguinte, os porcos que supervisionavam o trabalho da granja andassem com chicotes nas patas. Nem estranharam ao saber que os porcos haviam comprado um aparelho de rádio, que estavam tratando da instalação de um telefone e da assinatura de jornais e revistas. Não estranharam quando Napoleão foi visto passear nos jardins da casa com um cachimbo na mão, nem quando os porcos se assenhorearam das roupas do Sr. Jones e passaram a usá-las, sendo que Napoleão apresentou-se vestindo um casaco negro, calças de caçador e perneiras de couro, enquanto sua porca favorita surgia com o vestido de seda que a Sra. Jones usava aos domingos.

Uma semana mais tarde, após o meio-dia, apareceram numerosas charretes subindo rumo à granja. Uma representação de granjeiros vizinhos fora convidada a realizar uma visita de inspeção. Toda granja lhes foi mostrada e eles expressaram admiração por tudo quanto viram, especialmente pelo moinho de vento. Os bichos estavam limpando a lavoura de nabos. Trabalhavam diligentemente, mal levantando o olhar do chão e sem saber a quem temer mais, se os porcos, se os visitantes humanos.

Naquela noite, altas risadas e cantorias chegaram da casa. Lá pelas tantas, ante o som das vozes misturadas, os bichos encheram-se de curiosidade. Que estaria acontecendo lá dentro, agora que, pela primeira vez, encontravam-se em teremos de igualdade os animais e os seres humanos? Pensando todos a mesma coisa, dirigiram-se furtivamente para o jardim da casa.

No portão titubearam, um tanto temerosos, mas Quitéria deu o exemplo e entrou. Andaram, pé ante pé, até a casa, e os mais altos espiaram pela janela da sala de jantar. Lá dentro, em volta de uma mesa grande, estavam sentados meia dúzia de granjeiros e meia dúzia de porcos dentre os mais eminentes, Napoleão no lugar de honra, à cabeceira. Os porcos pareciam perfeitamente à vontade em suas cadeiras. O grupo estivera jogando cartas, mas havia interrompido o jogo por instantes, evidentemente para os brindes. Um grande jarro circulava e os copos se enchiam de cerveja. Ninguém notou as caras admiradas dos bichos, que espiavam pela janela.

O Sr. Pilkington, de Foxwood, levantara-se com o copo na mão. Disse que ia convidar os presentes para um brinde. Mas, antes, desejava dizer algumas palavras, que julgava de seu dever pronunciar.

Era motivo de grande satisfação para ele — e tinha certeza de que falava por todos os demais — sentir que o longo período de desconfianças e desentendimentos chegara ao fim. Tempo houvera — não que ele ou qualquer dos presentes tivesse pensado dessa maneira — mas tempo houvera em que os respeitáveis proprietários da Granja dos Bichos haviam sido olhados, não diria com hostilidade, mas com uma certa apreensão, por seus vizinhos humanos. Ocorreram incidentes desagradáveis e idéias errôneas haviam circulado. Parecera a muitos que a existência de uma granja pertencente a animais e por eles administrada era coisa um tanto fora do comum e poderia vir a causar transtornos à vizinhança. Muitos granjeiros supuseram, sem as verificações devidas, que em tal granja prevaleceria um espírito de licensiosidade e indisciplina. Haviam-se preocupado com o efeito de tudo isso sobre seus próprios animais e, até mesmo, sobre seus empregados humanos. Mas todas essas dúvidas estavam agora dissipadas. Hoje ele e seus companheiros haviam visitado a Granja dos Bichos, inspecionando cada metro quadrado com seus próprios olhos, e que haviam encontrado? Não apenas métodos dos mais modernos, mas uma ordem e uma disciplina que podiam servir de exemplo. Julgava poder afirmar que os animais inferiores da Granja dos Bichos trabalhavam mais e recebiam menos comida do que quaisquer outros animais do condado. Para falar a verdade, ele e seus companheiros de visita haviam visto, naquele dia, muita coisa que pretendiam introduzir imediatamente em suas próprias granjas.

Finalizaria suas palavras, continuou, assinalando mais uma vez os sentimentos de amizade, que prevaleciam e deviam prevalecer entre a Granja dos Bichos e seus vizinhos. Entre os porcos e os seres humanos não havia, e eram inteiramente inadmissíveis quaisquer conflitos de interesses. Suas lutas e suas dificuldades eram uma só. Pois o trabalho não constituía o mesmo problema em toda parte? A essa altura evidenciou-se que o Sr. Pilkington pretendia soltar para a platéia algum dito espirituoso, mas por alguns momentos pareceu por demais dominado pelo gozo da própria piada, para poder dizê-la. Depois de muita sufocação, que deixou vermelhos os seus vários queixos, ele conseguiu largá-la: “Se os senhores têm que lutar com os seus animais inferiores, nós temos as nossas classes inferiores”. Este bon mot causou sensação na mesa, e o Sr. Pilkington novamente felicitou os porcos pelas baixas rações, pelas muitas horas de trabalho e pela ausência geral de tolerância que observara na Granja dos Bichos.

E agora, disse finalmente, convidava o grupo a levantar-se e verificar se os copos estavam cheios.

— Senhores — concluiu o Sr. Pilkington — proponho um brinde: À prosperidade da Granja dos Bichos!

Houve uma entusiástica saudação e depois muitas palmas. Napoleão ficou tão emocionado que deixou seu lugar e deu a volta à mesa para tocar com seu copo o do Sr. Pilkington, antes de esvaziá-lo. Quando as felicitações acabaram, Napoleão, que permanecera de pé, disse que iria também proferir algumas palavras.

Como todos os discursos de Napoleão, aquele foi curto e direto ao assunto. Também ele, disse, alegrava-se de que o período de desentendimentos tivesse chegado ao fim. Por longo tempo houve rumores — inventados, acreditava, e tinha razões para isso, por algum inimigo mal-intencionado — de que havia algo de subversivo e mesmo de revolucionário nos pontos de vista seus e de seus companheiros. Tinham passado por desejosos de fomentar a rebelião entre os animais das granjas vizinhas. Nada podia estar mais longe da verdade! Seu único desejo, agora como no passado era viver em paz e gozando de relações normais com os seus vizinhos. Aquela granja que ele tinha a honra governar, acrescentou, era um empreendimento cooperativo. As escrituras que estavam em seu poder conferiam a posse a todos os porcos.

Não acreditava que ainda restassem quaisquer das velhas suspeitas, mas certas modificações na rotina da granja haviam sido introduzidas com o fito de promover uma confiança ainda maior. Até aquele momento os bichos haviam conservado o hábito imbecil de dirigirem-se uns aos outros pela alcunha de “camarada”. Isso ia acabar. Existira também o costume insólito, cuja origem era desconhecida, de marchar aos domingos, desfilando frente a uma caveira de porco pregada num poste. Isso também ia acabar, e a caveira já for a enterrada. Os visitantes com certeza teriam observado também a bandeira verde que tremulava no poste. Nesse caso teriam notado que as antigas figuras do chifre e da ferradura, em branco, haviam sido suprimidas. Daí por diante seria uma bandeira puramente verde.

Tinha apenas um reparo, disse, a fazer ao excelente discurso, bem próprio de um bom vizinho, do Sr. Pilkington. O Sr. Pilkington referira-se o tempo todo à “Granja dos Bichos”. Naturalmente ele não podia saber — mesmo porque Napoleão o estava proclamando, naquele instante, pela primeira vez — que a denominação “Granja dos Bichos” for a abolida. A partir daquele momento, sua granja voltaria a ser conhecida como “Granja do Solar”, que, aliás, parecia-lhe, era seu nome correto e original.

Senhores — concluiu Napoleão, levantarei o mesmo brinde, mas sob forma diferente. Encham, até a borda, seus copos. Senhores, este é o meu brinde. À prosperidade da Granja do Solar!

Houve as mesmas calorosas felicitações de antes, e os copos foram esvaziados. Mas aos olhos dos bichos, que lá de for a espiavam, pareceu que algo estranho estava acontecendo. Que diabo teria alterado a cara dos porcos? Os olhos embaçados de Quitéria iam de uma cara para outra. Algumas tinham cinco queixos, outras quatro, outras três. Mas alguma coisa parecia misturá-las e modificá-las. Então, findos os aplausos, o grupo pegou novamente nas cartas, reencetando o jogo interrompido, e os animais afastaram-se silenciosamente.

Não haviam, porém, chegado sequer a vinte metros quando se detiveram, ante o vozerio alto que vinha lá de dentro. Voltaram correndo e tornaram a espiar pela janela.

Realmente, era uma discussão violenta. Gritos, socos na mesa, olhares suspeitos, furiosas negativas. A origem do caso, ao que parecia, fora o fato de Napoleão e o Sr. Pilkington haverem, ao mesmo tempo, jogado um ás de espadas.

Doze vozes gritavam cheias de ódio e eram todas iguais. Não havia dúvida, agora, quanto ao que sucedera à fisionomia dos porcos. As criaturas de fora olhavam de um porco para um homem, de um homem para um porco e de um porco para um homem outra vez; mas já se tornara impossível distinguir quem era homem, quem era porco.
© alguemsemnome,
книга «A Revolução dos Bichos».
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