A Garota que torturava
A Garota que torturava - parte II
A Garota que foi humilhada
A Garota que era psicopata
A Garota que era psicopata - parte II
O Garoto que amava
O Garoto que amava - parte II
A Garota que foi convidada
O Garoto que lutou
O Garoto que lutou - parte II
O Garoto que lutou - parte III
O Garoto policial
O Garoto policial - parte II
O Garoto que foi interrogado
O Garoto que foi interrogado - parte II
O Garoto que propôs
O Garoto que propôs - parte II
A Garota que se decepcionou
A Garota de cabelos ruivos
A Garota de cabelos ruivos - parte II
A Garota que foi incriminada
A Garota que foi incriminada - parte II
A Garota estranha
A Garota estranha - parte II
A Garota estranha - parte III
A Garota estranha - parte III
Mais um dia se passou e a jovem Yamazaki poderia retornar às aulas normalmente. Novamente o clima estava como no dia anterior. Quando chegou na sala de aula ninguém se surpreendeu por ela estar de volta, pois ninguém chegou a saber da expulsão. Ela apenas mentiu dizendo que ficou doente, e caso tivesse sido realmente expulsa, o diretor-que já estava fora da cidade para fazer encontros e reuniões por vários dias-simplesmente teria dito aos colegas da Mayu que ela havia se transferido para outra escola.
Mayu evitou fazer contato visual com Sakura e com as outras.
Sakura passou o dia todo tentando se aproximar da Mayu para conversar e se desculpar por tudo, mas sempre que ela tentava chegar perto, a Ayumi lançava um olhar amedrontador para a loira, como uma leoa olhando sua presa.
Quando a loira percebeu, o último sinal havia tocado e ela não conseguiu o que queria.
Decidida a fazer aquilo naquele dia, Sakura resolveu seguir a Mayu até a casa dela se precisasse. Mas a jovem Yamazaki assim que deixou a sala de aula, foi para a biblioteca.
Yamazaki entrou na sala. A bibliotecária havia ido embora, assim como a maioria dos alunos. Só havia a jovem por lá quando Sakura entrou. Mayu percebeu sua presença.

-Se você fizer aquela cena novamente eu juro que...

-Não vou fazer nada! - disse rapidamente.

-O que é que você quer? - Mayu se virou para ela.

-Eu só quero conversar, eu juro! E também lhe pedir o seu perdão.

-Por quê uma pessoa como você precisa do meu perdão?

-Porquê eu me arrependi...

-Se arrependeu dois dias depois de tentar me incriminar? Parece um tanto improvável.

-Mas é sério. Mayu... Desde que éramos pequenas, eu, a Haruka e a Akari fomos más com você. Mas eu, particularmente, tive um motivo para isso. Quer saber qual foi?

-Porquê você é malvada?

-Não! É porquê... Porquê eu me apaixonei... - Sakura abaixa a cabeça.

-E desde quando você tem coração para se apaixonar?

-Desde que eu era criança... Mas ninguém nunca entendeu o meu amor...

***flashback - 11 anos antes.

Era primavera. O sol estava se pondo numa praça no norte de Tóquio.
A praça arborizada possuía um pequeno playground para crianças, mas só havia uma garotinha por lá. Ela estava sentada chorando na caixa de areia. Seus belos cabelos loiros e sua roupa estavam cobertos de areia.
Os balanços se mexiam fazendo rangidos agudos e o vento soprava entre as árvores.
A senhora Nishizawa viu a garotinha na caixa de areia e mandou sua filha ir brincar com a pequena enquanto ela conversava com alguns conhecidos.

A pequena Haruka correu até a garotinha.

-Oi! Vucê tá chorano puquê?

-Minhas amigas... Elas num gostam mais de mim...

-Puquê?

-Porquê eu sô estranha...

-Puquê? - insistiu.

-Porquê eu dissi pa elas que eu gosto de meninas...

-Puquê vucê gosta de meninas?

-Eu... Eu num sei... Os papais das minhas amigas disseram qui elas num podem ser minhas amigas porquê eu gosto de meninas... Agora elas me tratam mal... Jugaram terra em mim... Ninguém quer ser minha amiga...

-Eu puço se sua amiga!

-Vucê num liga se eu gostar de meninas?

Haruka mexeu a cabeça, dizendo "não".

-Mas seus pais não vão ti dexar ser minha amiga...

-Eles num precisam sabê! Pode se segredo!

-Você promete guarda segredo?

-Eu prometo!

***

-E foi nesse momento que eu me apaixonei por ela. Fiz tudo o que ela pedia só pra ela gostar mais de mim. Fiquei tão obcecada por ela que nem notei as pessoas que eu estava magoando. Mayu, se tiver algo que eu possa fazer por você, diga! Eu quero me redimir!

-Não consigo pensar numa coisa boa o suficiente para compensar mais de 10 anos de maus tratos.

-Não precisa ser só uma coisa! Posso fazer mais! Me redimir aos poucos! Me deixe ser sua amiga, Mayu! Me deixe te compensar!

-Bom... Se você estiver mesmo disposta a me compensar...

-Sim...?

-Eu acho que...

-Sim...?

-Acho que posso te dar uma chance.

Uma felicidade preencheu todo o corpo da loira que correu e se ajoelhou diante da Mayu.

-Obrigada! Muito obrigada!

Sakura se curvou ajoelhada para reverenciar a jovem, mas ao que parece, foi a pior decisão que ela poderia tomar, pois ao se curvar, algumas coisas sairam por uma abertura em sua mochila, que estava mal fechada. Cairam lápis, uma calculadora, e um celular de capa vermelha que a Mayu tinha certeza que não era da Sakura. Quando viu o aparelho caindo, Mayu se lembrou no mesmo momento da vez que Hiroshi anotara seu numero de telefone naquele mesmo celular.

-E-Esse... Celular... - Mayu estava trêmula.

Sakura percebeu o telefone no chão e tentou pegá-lo depressa, mas a Mayu foi mais rápida. Ela pegou o telefone e apertou a tecla de bloqueio. Na tela, estava uma foto do Hiroshi e ela logo percebeu.

-Foi... F-Foi... Foi você... Foi você...

-Mayu...?

-Foi você... Você armou pra mim...! Armou para que eu fosse estuprada! - Mayu berrou aos prantos.

-Não! A idéia não foi minha!

-Hipócrita! Vem me pedir desculpas quando foi você quem me causou a maior desgraça da minha vida!

-Não!

-Como não?! A prova está bem aqui na minha mão!

-Mas a idéia foi da Haruka! Eu só... Eu só...

Sakura ajoelhou chorando.

-Eu só queria ser feliz...

Mayu ia caminhando em direção à porta.

-E-Espera! A-Aonde você vai?! - Sakura se desesperou.

-Levar esta prova para a polícia!

-Não! Por favor! Tenha piedade!

-E você teve piedade de mim?!

Sakura correu até a Mayu. Tentou agarrar o celular. As duas começaram um cabo de guerra. Uma puxava pra cá, outra puxava pra lá. As duas brigavam pela posse do celular. Elas se mexiam bruscamente até que Sakura ficou de costas para o parapeito da janela. As duas, ao mesmo tempo tentaram um movimento final, puxando o celular bruscamente. Sakura acabou ganhando a disputa, mas se desequilibrou e despencou da janela.

Estava a 10 metros do chão.

-O quê...? O que está acontecendo? - pensou a loira.

9 metros do chão.

-Estou caindo...!

8 metros do chão.

-Está tudo em câmera lenta...

7 metros do chão.

-Eu... Eu vou morrer?

6 metros do chão.

-Mas... Eu sou tão jovem...!

5 metros.

-Eu não quero morrer...!

4.

-Mas... Se bem que eu mereço...

3.

-Fui um desastre como pessoa...

2.

-Me perdoe papai! Me perdoe mamãe! Me perdoe Mayu!

1.

-Então tudo acaba aqui... Bom, pelo menos pude me arrepender... Tomara que com isso eu possa pagar minha dívida... Obrigada... Mayu...

O som do seu pescoço quebrando foi a última coisa que a Sakura ouviu antes de morrer naquele chão de concreto. Ela já tinha partido quando o celular do Hiroshi se despedaçou do seu lado.
Sua cabeça ficou numa posição muito incômoda de se ver em relação corpo. Seus olhos estavam esbugalhados e ela estava boquiaberta. Uma vértebra perfurou seu pescoço e uma poça de sangue se formava em volta dela.

Mayu estava lá em cima no segundo andar, chocada. Não acreditava que pudesse ter feito aqui.

-N-Não...! Não! Eu... Eu... Eu a matei...! Sou uma assassina...! Não, foi um acidente, um acidente! Não, eu a matei...!

Ela estava desesperada, não sabia o que fazer.
Estava sendo observada. Ayumi a espiava pela porta da biblioteca.

-Ah, Mayu... - Ayumi sorriu.

© Deivid Silva,
книга «Mayu».
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