Capítulo sete
RECORTADO DO “DAILYGRAPH" DE 8 DE AGOSTO
(Incluso no diário de Mina Murray) De um Correspondente:
(Uma das maiores e mais violentas tempestades de que se tem memória aqui, com resultados estranhos e sui generis. Na noite de sábado, o tempo estava bom. Grupos de pessoas passeavam no Bosque de Mulgrava, Baía de Robin Hood, Rig Mill, Runswick, Staithees e diversos outros lugares das vizinhanças de Whitby. Os vapores “Emma” e “Nelson” realizaram excursões pelo litoral e a cidade de Whitby estava muito movimentada. O crepúsculo foi muito bonito. Um velho marinheiro, que há mais de meio século observa os sinais do tempo no Rochedo de Leste, previu, com segurança, uma tempestade. O vento abrandou inteiramente durante a noite e, à meia-noite houve uma calmaria absoluta, calor intenso e o mormaço que fazem as pessoas sensíveis prever a aproximação de tempestade. Havia poucas luzes à vista no mar, pois mesmo os vapores costeiros que, em geral, navegam muito perto da costa, tinham ganho o mar alto e poucos barcos de pesca estavam à vista. As únicas velas visíveis eram de uma escuna estrangeira que parecia ir para oeste. A imprudência ou ignorância de seus oficiais deu motivo a muito comentário e procurou-se fazer-lhe sinal no sentido de reduzir as velas, em face do perigo.
Pouco antes de dez horas, a atmosfera se tornou opressiva e reinou um silêncio tão completo que se podia ouvir o latir de um cão na cidade. Pouco antes de meia-noite, veio um ruído estranho do mar e um uivo encheu o ar.
De repente, sem advertência, a tempestade se desencadeou. As ondas ergueram-se furiosamente. Súbito, a escuna apareceu iluminada pela luz do farol. Um grito de angústia irrompeu de todos os lábios, mesmo dos homens mais fortes e habituados com as surpresas marítimas.
— Não escapa! — gritaram. — Vai se arrebentar de encontro aos rochedos.
Erguida por uma onda gigantesca, a escuna foi projetada no porto. Parecia um milagre. A luz do farol a acompanhou e um arrepio percorreu todos que a contemplavam, pois, amarrado ao leme, havia um cadáver. Nenhum outro vulto era divisado na coberta.
Arrastado pelas ondas, o navio encalhou na praia. E o mais estranho de tudo foi que, logo que o navio encalhou, um cão enorme pulou da proa, caiu na areia e saiu correndo, como uma flecha, em direção ao cemitério da igreja, onde desapareceu.
O guarda costeiro que estava de serviço na zona oriental do porto foi o primeiro a subir ao navio. Embora estivesse um pouco longe, também me dirigi logo para lá. Quando cheguei, já havia grande multidão, que a polícia e a guarda-costeira tratavam de impedir entrasse na escuna. Por cortesia das autoridades, pude entrar, na qualidade de jornalista.
O que se via era inacreditável. O homem estava com as mãos amarradas na roda do leme. Entre a mão que estava para o lado de dentro e a madeira, havia um crucifixo cujo rosário fora enrolado em ambos os punhos do cadáver e na roda. Um médico, o Dr. J. M. Caffyri, que chegou logo depois de mim, opinou que ele já devia estar morto há uns dois dias. No seu bolso foi encontrada uma garrafa, cuidadosamente arrolhada, contendo um pequeno rolo de papel que parece ser um adendo ao diário de bordo. O guarda costeiro diz que o homem deve ter amarrado as próprias mãos, atando o nó com os dentes.
A tempestade já passou e os curiosos estão voltando para casa. Enviarei mais pormenores para a próxima edição.
9 de agosto — Verificou-se que escuna é russa, de Varna e chama-se “Demeter”. Estava navegando com lastro de areia, tendo, apenas um pequeno carregamento, constituído por um certo número de grandes caixotes de terrá. Esse carregamento estava consignado a um procurador de Whitby. Sr. S. F. Billington, de Crescent, que, esta manhã, foi a bordo e tomou posse dos bens. Também o cônsul tomou posse formal do barco e pagou os impostos devidos.
Não se fala em outra coisa na cidade a não ser no estranho acontecimento. O destino do cão tem despertado grande interesse. Alguns membros da Sociedade Protetora dos Animais o procuraram, em vão. Para desapontamento geral, ele parece ter desaparecido inteiramente da cidade. Talvez, amedrontado, tenha se refugiado nos brejos, onde ainda se encontre. Não falta quem receie que, mais tarde, ele se torne um perigo, pois é enorme. Hoje cedo, um cão muito grande, mestiço de mastim, pertencente a um carvoeiro de perto do cais, foi encontrado morto, com o pescoço estraçalhado, mostrando que lutou ferozmente.
Mais tarde — Graças à amabilidade do inspetor da Câmara de Comércio, pude examinar o diário de bordo do “Demeter”. Não registra fato algum de particular interesse, a não ser o desaparecimento de alguns membros da equipagem. O documento mais interessante é o que foi encontrado dentro da garrafa. Transcrevo, omitindo apenas alguns pormenores de ordem técnica. Parece que o capitão era maníaco e seu estado mental foi se agravando durante a viagem. Naturalmente, minhas informações devem ser aceitas em termos, pois estou escrevendo o que dita um empregado do cônsul russo, que teve a bondade de traduzir para mim, já que o tempo é curto.
(Incluso no diário de Mina Murray) De um Correspondente:
(Uma das maiores e mais violentas tempestades de que se tem memória aqui, com resultados estranhos e sui generis. Na noite de sábado, o tempo estava bom. Grupos de pessoas passeavam no Bosque de Mulgrava, Baía de Robin Hood, Rig Mill, Runswick, Staithees e diversos outros lugares das vizinhanças de Whitby. Os vapores “Emma” e “Nelson” realizaram excursões pelo litoral e a cidade de Whitby estava muito movimentada. O crepúsculo foi muito bonito. Um velho marinheiro, que há mais de meio século observa os sinais do tempo no Rochedo de Leste, previu, com segurança, uma tempestade. O vento abrandou inteiramente durante a noite e, à meia-noite houve uma calmaria absoluta, calor intenso e o mormaço que fazem as pessoas sensíveis prever a aproximação de tempestade. Havia poucas luzes à vista no mar, pois mesmo os vapores costeiros que, em geral, navegam muito perto da costa, tinham ganho o mar alto e poucos barcos de pesca estavam à vista. As únicas velas visíveis eram de uma escuna estrangeira que parecia ir para oeste. A imprudência ou ignorância de seus oficiais deu motivo a muito comentário e procurou-se fazer-lhe sinal no sentido de reduzir as velas, em face do perigo.
Pouco antes de dez horas, a atmosfera se tornou opressiva e reinou um silêncio tão completo que se podia ouvir o latir de um cão na cidade. Pouco antes de meia-noite, veio um ruído estranho do mar e um uivo encheu o ar.
De repente, sem advertência, a tempestade se desencadeou. As ondas ergueram-se furiosamente. Súbito, a escuna apareceu iluminada pela luz do farol. Um grito de angústia irrompeu de todos os lábios, mesmo dos homens mais fortes e habituados com as surpresas marítimas.
— Não escapa! — gritaram. — Vai se arrebentar de encontro aos rochedos.
Erguida por uma onda gigantesca, a escuna foi projetada no porto. Parecia um milagre. A luz do farol a acompanhou e um arrepio percorreu todos que a contemplavam, pois, amarrado ao leme, havia um cadáver. Nenhum outro vulto era divisado na coberta.
Arrastado pelas ondas, o navio encalhou na praia. E o mais estranho de tudo foi que, logo que o navio encalhou, um cão enorme pulou da proa, caiu na areia e saiu correndo, como uma flecha, em direção ao cemitério da igreja, onde desapareceu.
O guarda costeiro que estava de serviço na zona oriental do porto foi o primeiro a subir ao navio. Embora estivesse um pouco longe, também me dirigi logo para lá. Quando cheguei, já havia grande multidão, que a polícia e a guarda-costeira tratavam de impedir entrasse na escuna. Por cortesia das autoridades, pude entrar, na qualidade de jornalista.
O que se via era inacreditável. O homem estava com as mãos amarradas na roda do leme. Entre a mão que estava para o lado de dentro e a madeira, havia um crucifixo cujo rosário fora enrolado em ambos os punhos do cadáver e na roda. Um médico, o Dr. J. M. Caffyri, que chegou logo depois de mim, opinou que ele já devia estar morto há uns dois dias. No seu bolso foi encontrada uma garrafa, cuidadosamente arrolhada, contendo um pequeno rolo de papel que parece ser um adendo ao diário de bordo. O guarda costeiro diz que o homem deve ter amarrado as próprias mãos, atando o nó com os dentes.
A tempestade já passou e os curiosos estão voltando para casa. Enviarei mais pormenores para a próxima edição.
9 de agosto — Verificou-se que escuna é russa, de Varna e chama-se “Demeter”. Estava navegando com lastro de areia, tendo, apenas um pequeno carregamento, constituído por um certo número de grandes caixotes de terrá. Esse carregamento estava consignado a um procurador de Whitby. Sr. S. F. Billington, de Crescent, que, esta manhã, foi a bordo e tomou posse dos bens. Também o cônsul tomou posse formal do barco e pagou os impostos devidos.
Não se fala em outra coisa na cidade a não ser no estranho acontecimento. O destino do cão tem despertado grande interesse. Alguns membros da Sociedade Protetora dos Animais o procuraram, em vão. Para desapontamento geral, ele parece ter desaparecido inteiramente da cidade. Talvez, amedrontado, tenha se refugiado nos brejos, onde ainda se encontre. Não falta quem receie que, mais tarde, ele se torne um perigo, pois é enorme. Hoje cedo, um cão muito grande, mestiço de mastim, pertencente a um carvoeiro de perto do cais, foi encontrado morto, com o pescoço estraçalhado, mostrando que lutou ferozmente.
Mais tarde — Graças à amabilidade do inspetor da Câmara de Comércio, pude examinar o diário de bordo do “Demeter”. Não registra fato algum de particular interesse, a não ser o desaparecimento de alguns membros da equipagem. O documento mais interessante é o que foi encontrado dentro da garrafa. Transcrevo, omitindo apenas alguns pormenores de ordem técnica. Parece que o capitão era maníaco e seu estado mental foi se agravando durante a viagem. Naturalmente, minhas informações devem ser aceitas em termos, pois estou escrevendo o que dita um empregado do cônsul russo, que teve a bondade de traduzir para mim, já que o tempo é curto.
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