DIÁRIO DO DR. SEWARD
7 de setembro — A primeira coisa que Heiing disse, quando nos encontramos em Liverpool Street foi: Contou alguma coisa ao seu jovem amigo, namorado dela?
— Não — respondi. — Estava esperando sua chegada, como disse em meu telegrama. escrevi-lhe apenas dizendo que o senhor vinha, pois Miss Westenra não está passando muito em.
— Fez muito bem, meu amigo! — disse ele. — É preferível que ele saiba o mais tarde possível.
Quando descrevi os sintomas de Lucy — os mesmos de antes, porém muito mais acentuados — ele se mostrou muito sério, mas nada disse.
Quando chegamos, a Sra. Westenra veio receber-nos. Estava assustada, mas não tanto quanto eu esperava. A natureza, em sua sabedoria, determinou que mesmo a morte tivesse um antídoto para seu próprio terror. A pobre senhora está, ela própria, tão mal que não percebe a doença da filha.
Eu e Van Helsing fomos levados ao quarto de Lucy. Fiquei horrorizado com o seu aspecto. Estava de uma palidez mortal; a cor desaparecera mesmo de seus lábios e gengivas e os ossos da face pareciam querer furar a pele. Respirava com grande dificuldade. Van Helsing não escondeu sua profunda preocupação. Lucy estava sem forças para falar e assim por alguns momentos, ficamos todos em silêncio. Depois, Van Helsing me fez um sinal e saímos do quarto em silêncio.
— Temos de fazer uma transfusão de sangue imediatamente — anunciou, então. — Quem dará o sangue? Eu ou você?
— Sou mais moço e mais forte, professor. Devo ser eu.
— Então, prepare-se pois vou buscar minha valise. Já estou preparado.
Desci ao andar térreo com ele, e, quando caminhávamos, uma pancada forte soou na porta. Quando chegamos a criada tinha acabado de abrir a porta e Arthur entrou.
— Estou morrendo de aflição — disse-me ele. — Sua carta me assustou terrivelmente. Como meu pai melhorou um pouco, tomei o primeiro trem. Não é o Dr. Van Helsing? Sou-lhe muito grato por ter vindo, doutor.
— Chegou a tempo. Sua noiva está mal, muito mal.
Arthur empalideceu e sentou-se numa cadeira, quase desmaiado.
— Que devo fazer? — perguntou Arthur. — Minha vida lhe pertence e, por ela, darei, de boa vontade, até a última gota de meu sangue.
— Não lhe pedirei tanto — disse o professor. — Não precisaremos da última gota! Venha. O senhor é um homem e é disso que precisamos.
Arthur pareceu intrigado e o professor tratou de explicar: — A jovem está muito mal. Precisa de sangue, para não morrer. Eu e meu amigo John já íamos fazer uma transfusão de sangue, John tinha se oferecido para doar o seu, mas acho que o do senhor será muito melhor.
— Se soubesse quanto estou disposto a morrer por ela... — disse Arthur.
— Muito bem! — disse Van Helsing.
Aproximou-se, então, do leito de Lucy, tendo pedido a Arthur para não entrar no quarto. Tirou, da valise, um pacotinho e colocou dentro de um copo d’água.
— Tome isto que lhe fará bem, disse a Lucy, jovialmente.
Ela conseguiu beber, com esforço. Foi espantoso o tempo que a droga levou para fazer efeito. Afinal, o narcótico fê-la adormecer. Van Helsing, então, chamou Arthur e mandou-o tirar o casaco. A transfusão foi feita sem dificuldade e as cores começaram a voltar rapidamente às faces de Lucy.
— Chega! — exclamou, de súbito, Van Helsing, que tinha os olhos no relógio. — Cuide dele, que tomarei conta dela.
Depois de ter feito o curativo, apalpou o travesseiro de Lucy. A tira de veludo preto que ela trazia no pescoço, presa por um broche de diamantes, presente de seu namorado, saiu do lugar, deixando ver um pequeno ferimento. Arthur não o notou, mas observei que Van Helsing respirou fundo, o que é um de seus modos de demonstrar emoção.
— Agora, leve para fora o valente namorado — disse-me ele. — Dê-lhe um cálice de vinho do Porto e faça-o deitar por algum tempo. Depois, ele deve ir para casa, e dormir bastante. Não deve ficar aqui.
Quando Arthur se retirou, voltei para o quarto. Lucy estava dormindo sossegada. Perguntei ao professor, em voz muito baixa: — Que acha daquele ferimento no pescoço?
— E você, que acha?
— Ainda não o examinei — respondi.
Tratei, então, de afrouxar a tira de veludo. Um pouquinho acima da veia jugular havia duas incisões, que não eram muito grandes, mas não tinham bom aspecto. Imaginei que talvez aquilo explicasse a perda de sangue, mas logo abandonei a idéia, pois toda a cama deveria estar vermelha, com a quantidade de sangue que a moça devia ter perdido, para estar tão pálida antes da transfusão.
— E então? — insistiu Van Helsing.
— Não compreendo.
— Tenho de voltar para Amsterdam hoje à noite — disse o professor. — Preciso de certos livros e outras coisas. Você deve ficar aqui a noite toda, sem perdê-la de vista.
— Não acha bom chamar uma enfermeira? — sugeri.
— Eu e você somos melhores que enfermeiras. Providencie para que ela se alimente bem e ninguém a importune. Regressarei em breve e começaremos o tratamento. E então, podemos começar.
— Podemos começar? Que quer dizer isto?
— Você verá. Lembre-se de minhas recomendações. Se você abandoná-la e surgir alguma coisa de mal, irá ter muito remorso!
— Não — respondi. — Estava esperando sua chegada, como disse em meu telegrama. escrevi-lhe apenas dizendo que o senhor vinha, pois Miss Westenra não está passando muito em.
— Fez muito bem, meu amigo! — disse ele. — É preferível que ele saiba o mais tarde possível.
Quando descrevi os sintomas de Lucy — os mesmos de antes, porém muito mais acentuados — ele se mostrou muito sério, mas nada disse.
Quando chegamos, a Sra. Westenra veio receber-nos. Estava assustada, mas não tanto quanto eu esperava. A natureza, em sua sabedoria, determinou que mesmo a morte tivesse um antídoto para seu próprio terror. A pobre senhora está, ela própria, tão mal que não percebe a doença da filha.
Eu e Van Helsing fomos levados ao quarto de Lucy. Fiquei horrorizado com o seu aspecto. Estava de uma palidez mortal; a cor desaparecera mesmo de seus lábios e gengivas e os ossos da face pareciam querer furar a pele. Respirava com grande dificuldade. Van Helsing não escondeu sua profunda preocupação. Lucy estava sem forças para falar e assim por alguns momentos, ficamos todos em silêncio. Depois, Van Helsing me fez um sinal e saímos do quarto em silêncio.
— Temos de fazer uma transfusão de sangue imediatamente — anunciou, então. — Quem dará o sangue? Eu ou você?
— Sou mais moço e mais forte, professor. Devo ser eu.
— Então, prepare-se pois vou buscar minha valise. Já estou preparado.
Desci ao andar térreo com ele, e, quando caminhávamos, uma pancada forte soou na porta. Quando chegamos a criada tinha acabado de abrir a porta e Arthur entrou.
— Estou morrendo de aflição — disse-me ele. — Sua carta me assustou terrivelmente. Como meu pai melhorou um pouco, tomei o primeiro trem. Não é o Dr. Van Helsing? Sou-lhe muito grato por ter vindo, doutor.
— Chegou a tempo. Sua noiva está mal, muito mal.
Arthur empalideceu e sentou-se numa cadeira, quase desmaiado.
— Que devo fazer? — perguntou Arthur. — Minha vida lhe pertence e, por ela, darei, de boa vontade, até a última gota de meu sangue.
— Não lhe pedirei tanto — disse o professor. — Não precisaremos da última gota! Venha. O senhor é um homem e é disso que precisamos.
Arthur pareceu intrigado e o professor tratou de explicar: — A jovem está muito mal. Precisa de sangue, para não morrer. Eu e meu amigo John já íamos fazer uma transfusão de sangue, John tinha se oferecido para doar o seu, mas acho que o do senhor será muito melhor.
— Se soubesse quanto estou disposto a morrer por ela... — disse Arthur.
— Muito bem! — disse Van Helsing.
Aproximou-se, então, do leito de Lucy, tendo pedido a Arthur para não entrar no quarto. Tirou, da valise, um pacotinho e colocou dentro de um copo d’água.
— Tome isto que lhe fará bem, disse a Lucy, jovialmente.
Ela conseguiu beber, com esforço. Foi espantoso o tempo que a droga levou para fazer efeito. Afinal, o narcótico fê-la adormecer. Van Helsing, então, chamou Arthur e mandou-o tirar o casaco. A transfusão foi feita sem dificuldade e as cores começaram a voltar rapidamente às faces de Lucy.
— Chega! — exclamou, de súbito, Van Helsing, que tinha os olhos no relógio. — Cuide dele, que tomarei conta dela.
Depois de ter feito o curativo, apalpou o travesseiro de Lucy. A tira de veludo preto que ela trazia no pescoço, presa por um broche de diamantes, presente de seu namorado, saiu do lugar, deixando ver um pequeno ferimento. Arthur não o notou, mas observei que Van Helsing respirou fundo, o que é um de seus modos de demonstrar emoção.
— Agora, leve para fora o valente namorado — disse-me ele. — Dê-lhe um cálice de vinho do Porto e faça-o deitar por algum tempo. Depois, ele deve ir para casa, e dormir bastante. Não deve ficar aqui.
Quando Arthur se retirou, voltei para o quarto. Lucy estava dormindo sossegada. Perguntei ao professor, em voz muito baixa: — Que acha daquele ferimento no pescoço?
— E você, que acha?
— Ainda não o examinei — respondi.
Tratei, então, de afrouxar a tira de veludo. Um pouquinho acima da veia jugular havia duas incisões, que não eram muito grandes, mas não tinham bom aspecto. Imaginei que talvez aquilo explicasse a perda de sangue, mas logo abandonei a idéia, pois toda a cama deveria estar vermelha, com a quantidade de sangue que a moça devia ter perdido, para estar tão pálida antes da transfusão.
— E então? — insistiu Van Helsing.
— Não compreendo.
— Tenho de voltar para Amsterdam hoje à noite — disse o professor. — Preciso de certos livros e outras coisas. Você deve ficar aqui a noite toda, sem perdê-la de vista.
— Não acha bom chamar uma enfermeira? — sugeri.
— Eu e você somos melhores que enfermeiras. Providencie para que ela se alimente bem e ninguém a importune. Regressarei em breve e começaremos o tratamento. E então, podemos começar.
— Podemos começar? Que quer dizer isto?
— Você verá. Lembre-se de minhas recomendações. Se você abandoná-la e surgir alguma coisa de mal, irá ter muito remorso!
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